quarta-feira, maio 20, 2009

Essa Batalha


Como conciliar a aniquiladora idéia da morte
Com este incontivel afã de vida?
Como acoplar o horror
Diante do nada que virá
Com a invasora alegria
Do amor provedor e
Verdadeiro?
Como desativar o túmulo com a semeadura?
Como vencer o machado com a flor?
Será que o ser humano é isso?
Essa batalha?

Lento mas vem
Lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem
hoje está mais além
das nuvens que escolhe
e mais além do trovão
e da terra firme
demorando-se vem
qual flor desconfiada
que vigia ao sol
sem perguntar-lhe nada
iluminando vem
as últimas janelas
lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem
já se vai aproximando
nunca tem pressa
vem com projetos
e sacos de sementes
com anjos maltratados
e fiéis andorinhas
devagar mas vem
sem fazer muito ruído
cuidando sobretudo
os sonhos proibidos
as recordações dormidas
e as recém-nascidas

lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem
já quase está chegando
com sua melhor notícia
com punhos com olheiras
com noites e com dias
com uma estrela pobre
sem nome ainda
lento mas vem
o futuro real
o mesmo que inventamos
nós mesmos e o acaso
cada vez mais nós mesmos
e menos o acaso
lento mas vem
o futuro se aproxima
devagar
mas vem
lento mas vem
lento mas vem
lento mas vem


*Mario Benedetti, poeta uruguaio, lutador do povo latinoamericano.

Nasceu em 14 desetembro de 1920, em Tacuarembó. Transvivenciou dia 17 de maio, em Montevideo.

Um comentário:

Kabibs disse...

Muuuito bom esse poema de Mario Benedetti. Te recomendo um muto bom tbm latino-americano: Glauco Mattoso. Um poema:
Decir política
equivale a decir ciencia
de lo festivo
de lo relativo
y subversivo;
ciencia sujeta
en sus conclusiones prácticas
al circo
al palco
al camarín.


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