quarta-feira, outubro 21, 2009

Bem que eu desconfiei

Fazendo um panorama bem geralzão dos últimos dias acerca do que foi noticiado na mídia sobre o caso das laranjas e o MST foi difícil obter relatos e opiniões que não fossem as que associassem o movimento ao vandalismo. O que mais impressiona é que se aceita a idéia de que no Brasil pode explorar trabalhador com precárias condições insalubres, pode-se relegar a população à precários serviços públicos de saúde e de educação, pode-se matar índio. A sociedade, de um modo geral, aceita esse tipo de "desgraça" como se fosse natural! Mas não é! Por que quem paga imposto tem o direito de ter acesso à educação e a saúde de qualidade! E pode soar utópico, mas temos direito a esses bens, que para muitos neste país, infelizmente, ainda é um sonho!! E por que não se indignar com o "não acesso" a esses bens? Por que achar natural que não temos direito a educação pública e de qualidade? Por que achar que esse serviço prestado pelo Estado é uma benesse?
É seguindo a mesma linha de raciocínio que indago o leitor e deixo a pergunta: Por que não nos indignamos, igual ou até mais, quando vemos que o Estado brasileiro vai privatizar o serviço público de saúde e a educação? Por que não nos revolta (tanto quanto a revolta da laranja) o fato de vermos que os parlamentares do Congresso recebem salários supra elevados? Interessante como impera no país uma lógica que mais uma vez criminaliza um movimento, como o MST, enquanto que do outro lado aceita tacitamente a exploração humana de trabalhadores, a escravidão de trabalhadores nas culturas de laranja e cana-de-açúcar, as compras de passagens aéreas no Congresso com dinheiro público... Aliás, a mídia defensora do status quo, omitiu a razão da invasão da laranja: trata-se de terras fruto da grilagem contestada pelo Incra, ou seja, são 10 mil hectares de terras públicas que a Cutrale invadiu, e usa de forma ilegal, pois explora trabalhadores no monocultivo de laranja e lucra muita grana ao exportar suco de laranja aos EUA, por exemplo!

Aliás, uma outra pergunta: Quem invadiu as terras primeiro? A Cutrale ou o MST?? Aos olhos dessa mídia hipócrita, o MST é o vândalo que invade, enquanto que a Cutrale não!
Estranho, mas esse mesmo status quo que a mídia defende não é necessariamente o status do tratamento da igualdade para todos os indivíduos neste país! É claro que não, pois a calhorda defende uma das famílias mais ricos do mundo, pois a revista Veja, por exemplo, é amiga pessoal da família Bush. Bem que eu desconfiei!

CB

sexta-feira, outubro 09, 2009

Escolaridade não puxa rendimentos no setor rural

Segundo estudos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a exigência por mais escolaridade entre os trabalhadores rurais não tem sido capaz de impulsionar os rendimentos das trabalhadoras e trabalhadores do setor, da mesma forma que se observou no mesmo estudo que mais de 54% das demissões ocorreram com trabalhadores com 30 anos ou mais. Ou seja, ao contrário do que ocorre nas cidades, o trabalhador do campo não verá seus rendimentos salariais aumentarem com mais anos de estudos.
O perfil da mão de obra absorvida no campo é de um trabalhador jovem, que no pós-crise vê seu salário ser reduzido. Se não bastasse isso, aqueles que estão na faixa etária acima de 30 anos já são considerados pelo sistema do agronegócio como mão de obra a ser trocada, demitida, já que o jovem está mais "apto" fisicamente ao sofrimento que o campo reserva. O salário dos admitidos no semestre, na média dos setores da agropecuária, foi 6,8% inferior ao verificado no caso dos trabalhadores demitidos. Percebe-se que demissão tem sido usada como instrumento de redução de custos do patronato, já que o índice de rotatividade acaba se elevando, ou seja, o usineiro contrata por um curto período (utiliza o período da safra e entre-safra como justificativa) e demite, enquanto que ao re-contratá-lo, num segundo momento, a redução salarial será de 6,8%. Num país onde os patrões tem total liberdade para as práticas de demissão a rotatividade do setor é alta, e com isso o patrão objetiva reduzir os custos de pessoal. Enquanto isso o trabalhador fica à mercê da alta rotatividade, com redução dos seus salários. Isso sem falar da problemática e das sérias falhas educacionais e de qualificação...Fica para outra postagem.
Uma sequela da crise econômica-financeira no setor rural foi a redução da oferta de postos de trabalho. Um diagnóstico feito para a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) aponta uma redução superior a 43% na geração de novos empregos no primeiro semestre deste ano na comparação com os mesmos períodos de 2008 e 2007. O estudo do Dieese mostra que o acumulado de janeiro a junho, deste ano, foram criados 128.874 postos de trabalho, enquanto que em 2008 o setor criou 227.030 novas vagas. Já em 2007, no mesmo período, 238.437 novos empregos foram criados na agricultura.
Em termos regionais, nos seis primeiros meses de 2009, o Sudeste e o Centro-Oeste foram os principais responsáveis pela geração líquida de postos de trabalho. Foram as únicas regiões a apresentar saldos positivos no conjunto do setor agropecuário.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2008, divulgada nesta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo de pessoas de 10 anos ou mais na região centro-oeste é de 7,4%, e no sudeste com 5,4%, enquanto a região Nordeste lidera a lista com maior índice de analfabetismo do país, com 17,7%.
São taxas de analfabetismo ainda bastante significativas no país, e nessas regiões em particulares, já que são regiões que possuem um expressivo mercado agropecuário de cana e laranja, por exemplo. São Paulo lidera com a produção de cana de açúcar, mas que no momento pós-crise percebe uma queda dos salários no meio rural, da mesma forma que percebe um número significativo de analfabetos, como a região nordeste. O cenário do trabalhador do meio rural, neste pós-crise, além de precarizado (como sempre foi, lamentavelmente), é mal remunerado e perverso, pois exclui os mais velhos, sem qualificação. Muito a progredir!
CB

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