segunda-feira, junho 01, 2009

o sofrimento da demissão


No contexto de crise econômica mundial é pertinente uma observação dos sofrimentos que afetam a vida dos trabalhadores. Christophe Dejours, traça um panorama dos males de caráter psicológico pelos quais padecem trabalhadores de diversas categorias e setores. Diariamente as manchetes de jornais noticiam relatos de como a falência de empresas, as demissões coletivas, as suspensões de contratos, ou seja, de como a crise econômica têm alterado negativamente a vida de milhares de trabalhadores.


Segundo a Organização Internacional do Trabalho – OIT – as taxas (Dados do Jornal The New York Times, de 23 de fevereiro de 2009) atuais de desemprego na Espanha, registradas no mês de fevereiro, eram de 14,4%, na Irlanda 8,2%, França 8,1% e Grécia 7,5%. Recentemente o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos registrou o maior patamar de desemprego no país, desde 1983, de 8,9% no mês de abril. Segundo analistas de mercado dos EUA, desde o início da recessão, em dezembro de 2007, mais de 5,7 milhões de vagas foram eliminadas nos EUA.


A ameaça que rondava a vida dos trabalhadores, antes da crise mundial, eram as precárias condições de segurança, de insalubridade, periculosidade, o assédio moral e sexual, isto é, as condições de trabalho num contexto onde há trabalho. Contudo a crise propiciou o despontamento de uma outra problemática da classe trabalhadora, pois a perspectiva de sofrimento do trabalhador aumenta, já que não é somente as condições de trabalho flexíveis e precárias que levam aos sofrimento, mas o perigo de perda do “seu ganha pão”, ou a depressão do trabalhador em meio a uma redução de jornada, com redução de salário. É diante desse novo cenário que o sofrimento de trabalhador é analisado, pois quando Institutos de Pesquisa ou Órgãos do Estado revelam elevados números de desemprego ignora-se a porcentagem de trabalhadores em depressão, ou aqueles que se suicidaram diante da perda de trabalho e da própria identidade. O indivíduo deixa de pertencer a uma rede de social que trazia identificação consigo e com o restante da sociedade. O rompimento do laço que unia o trabalhador metalúrgico ao chão da fábrica traz não só consequências de ordem econômico-social, como a perda de salários, mas também de âmbito psicológico, como a desvalorização como indivíduo atuante na sociedade, já que a própria figura de “metalúrgico” e “vendedor” deixa de existir.



Segundo site do jornal “Diário do Grande ABC” a Fabrica da Mercedes-Benz concedeu férias coletivas para seus 7.000 funcionários, entre os dias 23 de fevereiro a 4 de março de 2009. Pouco mais de um ano depois de anunciar com pompa e circunstâncias um investimento de R$ 1,5 bilhão na fábrica de São Bernardo para ampliar a produção em 25% a empresa, líder no mercado brasileiro na produção e na venda de caminhões e ônibus, produziu em 2008, em dois turnos de trabalho 66 mil veículos (entre caminhões e ônibus). O volume foi 12% superior ao total fabricado em 2007, que totalizou 59 mil unidades. No site do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba noticia que a Renault anuncia o retorno de 500 trabalhadores que estavam com o contrato de trabalho suspenso durante 5 meses a voltarem aos postos de trabalho, já que o reaquecimento no mercado automotivo registrou alta nas vendas e na produção.



Como perceber o sofrimento do trabalhador mergulhado numa crise mundial que o engloba como objeto, nesse sistema que trata a classe trabalhadora como meros números e quantificações? Se num momento que antecede a crise o trabalhador já é explorado e sugado pelo capital das forças produtivas, agora ele está à mercê, não só da exploração, que o reifica, mas está diante da iminência constante de uma possível perda de identidade, de uma instabilidade não só de âmbito financeiro, mas psicológico.

Toda uma série de problemática para o trabalhador se apresentará diante desse momento histórico inédito, já que não se trata de uma perda de condições e de postos de trabalho num período qualquer, mas de um período caracterizado pela maior crise econômica, desde a de 1929, segundo analistas. Navarro e Padilha, observam em sua obra:

Neste cenário, podemos observar uma contradição marcante: enquanto parte significativa da classe trabalhadora é penalizada com a falta de trabalho, outros sofrem com seu excesso”.

Cris Bibiano

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