terça-feira, março 31, 2009

Crise desacelera mecanização da cana

Matéria publicada na Folha de São Paulo de 31 de março de 2009

Área colhida com máquinas cresce, mas indústria canavieira paulista corta 500 mil hectares menos que o previsto
Levantamento da Secretaria de Meio Ambiente mostra que colheita mecanizada e sem queimadas alcançou 49,1% da área da cana em SP

Metade da safra paulista de cana-de-açúcar do ciclo 2008/ 2009, que oficialmente termina hoje, foi colhida com máquinas, sem uso de queimadas. Essa área cresceu em relação à temporada anterior, mas o ritmo se desacelerou. Segundo o governo de São Paulo, um efeito da crise do setor.De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a colheita mecanizada se estende por 49,1% do território paulista ocupado pela cana. Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os restantes dos canaviais (50,9%) foram colhidos com o velho sistema da queimada. O fogo elimina a palha do canavial e facilita o corte manual.A meta original para este ciclo agrícola era alcançar 50% de áreas mecanizadas, mas o parque sucroalcooleiro paulista deixou para a safra 2009/ 2010 -que começa amanhã- um canavial em pé de 513 mil hectares, área que havia sido incluída no plano de colheita do ano passado. Mesmo assim, a área colhida em São Paulo chegou a 3,910 milhões de hectares. No ciclo 2007/2008 foram 3,790 milhões de hectares.Pelos dados da secretaria, a área colhida com máquinas cresceu 157 mil hectares na comparação com a safra anterior. Esse número é maior que a expansão da área total colhida (com máquinas e manualmente), o que demonstra que, além da mecanização de novas áreas, canaviais antigos estão mudando do sistema da queima para a mecanização.A preocupação é que esse saldo, na safra que se encerra agora, foi menor -25 mil hectares (já descontando a área total de expansão). No ciclo anterior havia sido de 140 mil hectares."Essa é uma preocupação, mas avalio que parte dessa redução é explicada pelo volume de cana que ficou em pé. A maior parte dessa cana está em áreas mecanizáveis. Se fosse colhida, a meta de 50% seria atingida e o saldo também seria maior", diz Ricardo Viegas, diretor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da secretaria e responsável pelo projeto Etanol Verde.O programa integra o protocolo lançado em junho de 2007 e prevê o cumprimento de metas mais curtas para eliminar a queimada da palha da cana em 2014 (para área mecanizáveis) e 2017 (para áreas não mecanizáveis). O protocolo assinado por 155 usinas instaladas em São Paulo (90% do parque) e pelas 24 cooperativas de fornecedores antecipa os prazos previstos na lei.A crise financeira que se abateu sobre o setor reduziu as encomendas de colhedoras e há certa dúvida se a meta acordada entre governo, usineiros e fornecedores será cumprida. Em princípio, não há previsão de mudança no prazo final do protocolo, mas metas intermediárias podem estar em risco.Viegas afirma que, até a safra 2010/2011, a colheita de cana crua (sem queima) deve atingir 70%. "Na safra que começa vamos ver se a meta intermediária será cumprida. O que está definido é que a eliminação da queimada em áreas mecanizáveis até 2014 não mudará", diz.
Outros Estados
Xico Graziano, secretário de Meio Ambiente, considera positivo o avanço da mecanização. Segundo ele, 70% da cana em São Paulo seria queimada. "É o que está ocorrendo em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, onde apenas agora há um movimento para ter um mecanismo como o de São Paulo. Com mais uma safra teremos uma série com três dados e aí dará para ver a tendência", diz.

Nenhum comentário:


contador gratis