sexta-feira, novembro 14, 2008

A precarização e exploração do trabalho nas Ciências Sociais




Entre os dias 27 a 30 de outubro, participei do 32º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Entre as diversas conferências existentes o professor Arne Kalleberg, da Universidade da Carolina do Norte, abordou dia 28/10 o tema da precarização e a insegurança do trabalho, assim como os riscos ao trabalhador. Segundo o professor, a agenda neoliberal brasileira é tardia na implantação de políticas, assim como vem enfraquecer os sindicatos, na medida em que o crescimento informal de empregos e o crescimento de maus empregos no setor formal alavanca significativamente.
A partir desse contexto é perceptível constatar que o "trabalho precário" foi sempre tido como normal no país, ou seja, grande parte dos trabalhos são precários, mas são tratados como atípicos. Por isso é importante o cuidado do emprego do termo "precário", pois se tomarmos como referência o trabalho dos canavieiros não se pode afirmar que trata-se de "precarização do trabalho", pois nesse caso ocorre a exploração da mão-de-obra em que é uma dimensão dada de anos, isto é, ao longo do processo histórico do Brasil. O "trabalho precário", de fato, existe quando ele possui uma forma, e dentro de uma situação clara, ele se precarizou ao longo de um tempo, portanto, contrário do trabalho escravo que impera, principalmente, nos canaviais brasileiros e sempre foi dessa forma, com condições precárias, insalubres, baixa remuneração, e que tem levado à morte centenas de trabalhadores por exaustão. Uma exaustão que está atrelada à lógica econômica, pois o "bom" cortador de cana recebe muitas vezes incentivos do patronato, segundo a Professora Dra Maria Aparecida Moraes, da Universidade Federal de São Carlos, no GT Trabalho e Sindicato na Sociedade Contemporânea, que apresentou o trabalho “Trabalhadores Rurais: a negação dos direitos”. Segundo Maria Aparecida, o canavieiro da região de Ribeirão Preto, recebe um liquidificador e/ou batedeira como incentivo ao "bom" corte, e esse programa elimina a micro resistência do processo laboral. O resultado dessa intensificação do ritmo de trabalho foram 22 mortes por exaustão no local de trabalho, de 2004 até início de 2008, na região. É aí que percebe-se que problemas desta natureza e de outras remete à questões do século passado, e que são evidentes na contemporaneidade, principalmente em se tratando dos trabalhadores da cana, pois sabemos que o etanol é a grande vitrine brasileira.
O professor Arne Kalleberg salienta a importância das políticas públicas na área do trabalho e suas formas na contemporaneidade, já que elas podem explicar a natureza do trabalho precário e pontuar soluções, de um modo que venha contribuir e ajudar as populações, como por exemplo, as políticas governamentais de previdência, de seguro saúde, aposentadoria, de um modo que o crescimento do emprego formal esteja em sintonia com incentivos do Estado, como a concessão de créditos fiscais ao patronato, por exemplo, segundo o professor.

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