terça-feira, março 31, 2009

Crise desacelera mecanização da cana

Matéria publicada na Folha de São Paulo de 31 de março de 2009

Área colhida com máquinas cresce, mas indústria canavieira paulista corta 500 mil hectares menos que o previsto
Levantamento da Secretaria de Meio Ambiente mostra que colheita mecanizada e sem queimadas alcançou 49,1% da área da cana em SP

Metade da safra paulista de cana-de-açúcar do ciclo 2008/ 2009, que oficialmente termina hoje, foi colhida com máquinas, sem uso de queimadas. Essa área cresceu em relação à temporada anterior, mas o ritmo se desacelerou. Segundo o governo de São Paulo, um efeito da crise do setor.De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a colheita mecanizada se estende por 49,1% do território paulista ocupado pela cana. Os dados são do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os restantes dos canaviais (50,9%) foram colhidos com o velho sistema da queimada. O fogo elimina a palha do canavial e facilita o corte manual.A meta original para este ciclo agrícola era alcançar 50% de áreas mecanizadas, mas o parque sucroalcooleiro paulista deixou para a safra 2009/ 2010 -que começa amanhã- um canavial em pé de 513 mil hectares, área que havia sido incluída no plano de colheita do ano passado. Mesmo assim, a área colhida em São Paulo chegou a 3,910 milhões de hectares. No ciclo 2007/2008 foram 3,790 milhões de hectares.Pelos dados da secretaria, a área colhida com máquinas cresceu 157 mil hectares na comparação com a safra anterior. Esse número é maior que a expansão da área total colhida (com máquinas e manualmente), o que demonstra que, além da mecanização de novas áreas, canaviais antigos estão mudando do sistema da queima para a mecanização.A preocupação é que esse saldo, na safra que se encerra agora, foi menor -25 mil hectares (já descontando a área total de expansão). No ciclo anterior havia sido de 140 mil hectares."Essa é uma preocupação, mas avalio que parte dessa redução é explicada pelo volume de cana que ficou em pé. A maior parte dessa cana está em áreas mecanizáveis. Se fosse colhida, a meta de 50% seria atingida e o saldo também seria maior", diz Ricardo Viegas, diretor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da secretaria e responsável pelo projeto Etanol Verde.O programa integra o protocolo lançado em junho de 2007 e prevê o cumprimento de metas mais curtas para eliminar a queimada da palha da cana em 2014 (para área mecanizáveis) e 2017 (para áreas não mecanizáveis). O protocolo assinado por 155 usinas instaladas em São Paulo (90% do parque) e pelas 24 cooperativas de fornecedores antecipa os prazos previstos na lei.A crise financeira que se abateu sobre o setor reduziu as encomendas de colhedoras e há certa dúvida se a meta acordada entre governo, usineiros e fornecedores será cumprida. Em princípio, não há previsão de mudança no prazo final do protocolo, mas metas intermediárias podem estar em risco.Viegas afirma que, até a safra 2010/2011, a colheita de cana crua (sem queima) deve atingir 70%. "Na safra que começa vamos ver se a meta intermediária será cumprida. O que está definido é que a eliminação da queimada em áreas mecanizáveis até 2014 não mudará", diz.
Outros Estados
Xico Graziano, secretário de Meio Ambiente, considera positivo o avanço da mecanização. Segundo ele, 70% da cana em São Paulo seria queimada. "É o que está ocorrendo em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, onde apenas agora há um movimento para ter um mecanismo como o de São Paulo. Com mais uma safra teremos uma série com três dados e aí dará para ver a tendência", diz.

sábado, março 28, 2009

o sofrimento e o prazer

Passei a última terça-feira estudando para a aula de Psicologia, desemprego e carreira profissional e ao acompanhar a leitura de Christophe Dejours – A Banalização da Injustiça Social – precisamente o capítulo para a aula “sobre o trabalho entre o sofrimento e o prazer” me chamou a atenção o quanto que a mídia tem relegado à segundo plano em trazer para o centro do debate público acerca das condições de sofrimento e prazer da classe trabalhadora. Principalmente por que mergulhados nessa atual crise financeira que o mundo padece, é primordialmente importante dar ênfase neste universo que sempre encontra-se escondido. Por que o prazer é recorrentemente veiculado pela grande mídia, que associa prazer no trabalho ao próprio sucesso financeiro e econômico. O trabalhador feliz vai ao McDonald's e come um “big-mac feliz”, ou então a família feliz acorda reunida no café-da-manhã consumindo manteiga. Embora o prazer, propriamente no trabalho, não seja isso em si, a grande mídia sempre transmite o prazer do trabalhador do Banco do Brasil, por exemplo, com a beleza e juventude de seus funcionários. Como se o prazer pelo trabalho estivesse, necessariamente, ligado ao ato de consumir um bem.
O próprio autor se indaga acerca dessa ausência de veiculação nas reportagens sobre o sofrimento do trabalhador, ou seja, a carga negativa e penosa, que encontra-se escondida e não-revelada no ato em que o trabalhador vende sua força de trabalho. E devido a essa não divulgação, principalmente nos jornais, muitas vezes faz com que pensamos que o “sofrimento do trabalhador” é algo excepcional e extraordinário. Aquele que sofre no trabalho é normalmelnte aquele trabalhador excepcional, que literalmente "dá trabalho" aos outros. É nessa linha de pensamento que Dejours trabalha esse capítulo. Quais os males que acometem o psicológico do trabalhador da metalúrgica, que em um momento de crise, se vê forçado a reduzir sua carga horária, ou então, o operário da construção civil que trabalha no sol, chuva, e muitas vezes sem os equipamentos de segurança necessários? Fala-se muito do crise econômica, mas quais as consequências psicológicas e físicas que acarretam no trabalhador? Trabalha-se mais, repetitiva e penosamente, forçando nervos. A própria angústia neste contexto de crise pela estabilidade do trabalho é um sofriemento, e que milhares de trabalhadores atualmente estão padecendo!
Dejours aborda a problemática do progresso de técnicas, que ao subtrair o suor do macacão do operário da montadora, relega à segundo plano as condições penosas e árduas das precárias condições de insalubridade, periculosidade, pressão psicológica, pelo aumento de vendas, e da produtividade. Como se a automação subtraísse o sofriemnto físico. Ignora-se o psicológico. O operador de telemarketing trabalha numa jornada estressante, com horários controlados pelo patrão, para ir ao banheiro, e na pressão pelo aumento de vendas, as metas estipuladas de vendas, numa jornada desgastante. Isso sem tocar numa outra problemática que sãos os baixos salários!
Para Dejours, “há o sofrimento dos que temem não satisfazer, não estar à altura das imposições de horário, de ritmo, de formação, de informação, de aprendizagem, de nível de instrução e de diploma, de experiência, de rapidez de aquisição de conhecimentos teóricos e práticos e da adaptação à “cultura” ou a ideologia da empresa, às exigências do mercado, às relações com os clientes, os particulares ou o público etc.” (página 28)

quarta-feira, março 25, 2009

emancipação? uma provocação

É precarizado, suado e desigual
a mulher no tanque, na pia ou no salão
de beleza ímpar, seja executiva, operária ou do lar
com suor sustenta casa, lava, passa
e cuida de todos eles;
Trabalha em dupla-tripla jornada
e não ganha nada.


É a mesma que é explorada, cantada e mal-tratada
pela sociedade é um mero objeto,
mal-remunerada,
e somente a nova é valorizada.


Tem salário reduzido, é discriminada e subordinada
Muitas apanham do machista, que em casa vive, e com ela casou,
pra viver uma vida de bela adormecida,
somente no sonho e na ilusão ficou;
Por que a rotina dessa vida desigual, precarizada e suada
pregou uma outra peça não esperada.

sexta-feira, março 20, 2009

crise


Aconteceu dia 12 de março, no auditório do Sentracos (Secretariado Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços) a divulgação do Balanço dos Reajustes das Negociações do DIEESE em 2008, no qual contou com a presença das centrais sindicais (CUT, CGTB, Conlutas, CTB, Força Sindical, NCST e UGT) e de aproximadamente 80 pessoas, além da cobertura por 15 veículos de imprensa.

Além a apresentação dos dados, um outro momento relevante do encontro foi percebido nas falas dos representantes das centrais sindicais. A crise econômica foi o tema que centralizou e norteou o debate. A seguinte questão era: Em como as centrais iriam se engajar, na capacidade de enfrentamento do trabalho diante da crise econômica, ou seja, numa preocupação de manutenção das conquistas do movimento sindical diante das pressões do mercado, como na flexiblixação, o rebaixamento dos salários, as demissões em massa, assim como a retirada dos direitos dos trabalhadores.

O grande foco das centrais está nos esforços das campanhas salariais. Reivindica-se que o recurso do BNDS chegue à micro e pequena, já que é o principal gargalo, segundo Pahat. A reivindicação completa-se com uma crítica à chantagem do empresariado para flexibilizar as leis trabalhistas, diante da crise, pois o comércio não está em crise, segundo Pahat.
Se o mesmo não foi afetado pela crise, por que vendeu mais no primeiro trimestre de 2009, do que no ano anterior (2008), então por que flexibilizar, rebaixando os salários da classe trabalhadora? Percebe-se que há todo um discurso do empresariado de que a crise existe e abalou o Brasil. Se ela está instaurada no país, é preciso perceber sua intensidade, em relação ao restante do mundo. Produzir um discurso sensacionalista e demitir funcionários por receio do mercado é inadmissível, como vem sendo feito por um grupo de capitalistas. Essa multiformidade que é uma característica da pós modernidade, nas relações de labor, tende a precarizar o trabalho, tanto para os trabalhadores, quanto para os não-trabalhadores, pois quando se impera esse discurso de "crise instaurada", ou seja, essa fatídico destino para a classe de trabalhadores no país, tende a gerar um sentimento geral de insegurança e desistitucionalização social. As pessoas acabam aceitando determinados tipos de trabalhos precarizados, por que se o sistema encontra-se em "possível colapso", elas acham melhor estarem trabalhando em determinads condições do que estarem desempregadas. Esse rebaixamento de condições de trabalho subtrai as conquistas históricas da categoria. Ou seja, por causa de uma possível crise financeira no país, trabalhadores, pais de família, se submeterão a condições adversas, em comparação ao momento anterior de não-crise, para proverem sua subsistência e a de suas famílias, enquanto que o lucro do mercado se matém, ou muitas vezes é superior, como registrado no setor de comércios (vide acima).
Esse é o ponto central da crítica. Critica-se esse discurso do empresariado, que faz o alarde para desestabilizar e flexibilzar as relações e as condições dos trabalhadores e trabalhadoras no país. Aqui não estou levantando bandeiras e dizendo que o país não está e vive na crise econômica-financeira, mas deve-se prestar atenção à intensidade dessa crise no Brasil com o restante do mundo. Aqui o contexto é distinto.

terça-feira, março 10, 2009

R$ 4,00 por tonelada de cana

Hoje a Comissão Pastoral da Terra de Alagoas divulgou uma carta aberta, com caráter de denúncia das condições de uso da terra. Nela são apresentados números que aterrorizam e traz à tona a problemática que teima em persistir no estado. Impressionante, eis os dados:

Na pequena Alagoas, formada por 102 municípios, 57 são
produtores de cana
de cana de açúcar. Os usineiros e fornecedores
abocanharam 410. 835 hectares
de
terra, o equivalente a 63,95% da
área
agricultável do Estado, gerando
apenas um
(01) emprego a
cada
6,6
hectares de terra.Essa ânsia
desenfreada
de
explorar a
natureza e o
ser humano criou um estado de
alguns
ricos
(cerca
de 20 famílias) e
uma legião de empobrecidos –
56%
dos
alagoanos
vivem
abaixo da
linha da pobreza

e uma
concentração de
terra que insulta o
conceito de
democracia.

Esse blog vem acompanhado, ao longo da sua existência, as informações, as estatísticas e muitos dados que se refere à problemática da concentração de terra no Brasil, principalmente no Nordeste e em especial no estado de Alagoas. Portanto a luta começou. Ela vem de longe, aqui de São Paulo, mas disposta a reverter o quadro, com denúncia, informações, e números que apresentem a realidade de um modo mais transparente. Essa é a pretensão, a meta.
A indignação é tamanha ao vermos milhares de trabalhadores sendo explorados, e muitos sendo mortos, por trabalho exausto, para receber em torno de R$ 4,00 por tonelada de cana. Trabalhadores são expropriados, explorados, tratados como animais em troca de um valor irrisório e vergonhoso, enquanto meia dúzia de latifundiários, que comandam o estado de Alagoas, ao deter o poder econômico e político, concentram terras e não cumprem sua função. Anti-constitucional, e compete à União a desapropriação imediata dessas terras, em prol do coletivo.

Todo apoio aos movimentos sociais do campo!

saudações

segunda-feira, março 09, 2009

MPT lança programa nacional de combate às irregularidades trabalhistas no setor sucroalcooleiro

O Ministério Público do Trabalho (MPT) desenvolveu o “Programa Nacional de Combate às Irregularidades Trabalhistas no Setor Sucroalcooleiro” com vistas a impedir a continuidade do alheamento dos trabalhadores em relação aos postulados do trabalho decente no meio rural. O Brasil tem sido foco de interesses dos maiores investidores mundiais, restando para as instituições brasileiras, como o MPT, garantirem que o País esteja preparado para tratar a questão conforme os seus próprios interesses. As operações do programa ocorreram no período de 02 a 06 de março, simultaneamente, nos Estados de Pernambuco e do Rio Grande do Norte. Foram inspecionadas 15 usinas no total, sendo dez em Pernambuco e cinco no Rio Grande do Norte.

A exemplo do ocorrido nas operações realizadas pela força-tarefa do MPT no Estado de Alagoas, que tiveram curso em 2008, as mais graves irregularidades encontradas foram: não fornecimento e substituição de equipamentos de proteção individual (EPIs); ausência de treinamento dos trabalhadores quanto à correta utilização dos EPIs; inexistência de banheiros fixos ou móveis e de abrigos contra intempéries nas frentes de trabalho (corte de cana); instrumentos de trabalho (podões e limas) sem bainha protetora; não-fornecimento de água potável e de refeições, bem como de marmitas térmicas aos trabalhadores do campo; excesso de jornada devido ao fato de o pagamento ser por produção (5 a 10 toneladas por dia por trabalhador).

A força-tarefa do MPT ainda constatou o controle inadequado de jornada e produtividade; não-concessão de pausas e períodos para repouso e refeição; transporte dos trabalhadores em ônibus em péssimo estado de conservação e sem autorização das autoridades de trânsito competentes; ausência de material de primeiros socorros nas frentes de trabalho; não-realização de exames médicos admissionais, periódicos e demissionais; inexistência dos programas ocupacionais; alojamentos com condições precárias de saúde e segurança; ausência dos depósitos do FGTS; atraso de pagamento dos salários, férias e 13º; não-pagamento das verbas rescisórias, entre outras.

Foram realizadas audiências com os representantes legais das usinas para que prestassem esclarecimentos e documentação, que será analisada para a propositura de termos de ajuste de conduta (TACs) ou ações civis públicas (ACPs) visando ao restabelecimento da dignidade de cerca de 21 mil trabalhadores. Poderá ser cobrado, inclusive, dano moral coletivo de cada usina infratora.

quinta-feira, março 05, 2009

o coletivo paga o pato

Segundo pesquisa divulgada pelo IPEA o empresariado brasileiro demite por causa da preocupação, e não pela crise.

Se a alegação para a demissão é a de que as vendas estão caindo, e conseqüentemente, a produção também despenca, a única saída que resta é o corte de funcionários, a redução dos salários em função da redução da jornada, e a suspensão de acordos e convenções de trabalho, que levam infelizmente a uma flexibilização das leis trabalhistas, conquistadas durante uma longa trajetória de lutas dos trabalhadores!
Do ponto de vista individualista, os agentes econômicos agem em função de uma cautela latente. Impressionante como se opera a lógica do mercado!

"Por um lado, os empresários arquivam projetos de investimento, reduzem custos e diminuem a produção e, pelo outro, os trabalhadores, com o temor do desemprego, reduzem o consumo para aumentar sua economia".

O curioso é que os preços não caem! Os preços poderiam cair, as vendas subirem e o mercado reaquecer. Sob o ponto de vista do poder que impera e dita as normas pelas quais o restante da população mundial deve aceitar (e sem contestações) é flexibilizando os direitos da classe trabalhadora que se chega a reposição dos lucros. Uma boa oportunidade do empresariado, sob a justificativa de "crise mundial", para subtrair os direitos dos trabalhadores.
Numa atitude totalmente individualista milhares de pais e mães de família pagam o preço;

"Segundo o estudo, esse fenômeno deixou em terreno muito negativo tanto o crescimento econômico como o nível de emprego no primeiro trimestre do ano. O Brasil perdeu apenas em dezembro e janeiro cerca de 755 mil empregos formais".

quarta-feira, março 04, 2009

Migración y Mecanización en los campos de caña para biocombustibles de Brasil

Migración y Mecanización en los campos de caña para biocombustibles de Brasil

Gretchen Gordon | 3 de marzo de 2009

En la rica región de caña de azúcar de Sao Paulo se encuentra el apacible pueblo de Guariba. Afuera de la iglesia católica de la plaza principal de Guariba, el equivalente a un automovilista estaciona su caballo y carreta entre un Chevy y un Fiat. Un vendedor ambulante empuja un tallo de caña de azúcar a través de una prensa que extrae su dulce jugo para un cliente sediento, al mismo tiempo que jóvenes brasileños toman un receso entre juegos de video y sesiones de chat frente a un café Internet. Ubicada en el centro del auge del etanol que está transformando la centenaria industria de la caña de azúcar de Brasil en productora global y de alta tecnología de los biocombustibles, Guariba es el choque de lo antiguo con lo nuevo .


Casi 10% de la población de Guariba labora como cortador de caña. La mayoría han emigrado desde el noreste de Brasil en donde la tierra y el empleo son escasos. Aún cuando los brasileños continúan arribando a la región en busca de una mejor forma de vida, la industria globalizada puede hacer esos sueños todavía más inciertos.

Desde los 1970s, Brasil ha desarrollado una vibrante industria del etanol que ha desplazado la mitad del mercado doméstico de la gasolina derivada del petróleo. En los últimos cinco años, Brasil ha emergido como el mayor exportador global de etanol. La nación no sólo ha expandido la producción y las exportaciones, también creó un lucrativo nicho del suministro de tecnología del etanol y de la inversión dirigida a naciones centroamericanas y del Caribe, con la esperanza de capitalizar el creciente mercado de los biocombustibles.

Un día de trabajo difícil

En una tarde de domingo, João Dias Peixoto de treinta años, está descansando en una banca de una de las plazas de Guariba. Originario de Minas Gerais, Dias Peixoto emigró a Guariba para cortar caña en una plantación cercana. Él considera al auge del etanol un desarrollo positivo para la nación. "Si hay mercado en el extranjero, es bueno," dice.

Cuando se le pregunta como es el trabajo, sin embargo, Dias Peixoto es menos entusiasta. Él hace pausa por un momento. "Es complicado," dice finalmente y admite que no le alcanza para cubrir sus gastos y que la industria es "un tipo de esclavismo."

La alusión al esclavismo no es una mera hipérbola. Inspecciones en el sector agrícola llevadas a cabo por el Ministerio del Trabajo brasileño durante el año pasado, revelaron que más de 4,500 trabajadores eran mantenidos en condiciones de peonaje y más de la mitad de ellos laboraban en plantaciones de caña. Aún en donde los cortadores de caña de azúcar ganan el salario mínimo, su pago total está basado en el volumen cortado de caña. Debido a que es casi imposible que los trabajadores estimen el volumen que han cortado, es común la expoliación de su salario. Además, la labor físicamente extenuante de cortar caña, con frecuencia lleva a lesiones debilitantes de la espina dorsal; mientras que la práctica de quemar los cañaverales para facilitar el corte manual puede causar enfermedades respiratorias severas. Al tiempo que la competencia en la industria se incrementa, los trabajadores compiten por cortar a mayor velocidad con el fin de asegurar un lugar en la próxima cosecha, llevando a algunos a trabajar hasta el colapso e incluso hasta la muerte.

La extenuante naturaleza del corte manual de caña es uno de los pocos asuntos en los que la mayoría de los brasileños pueden estar de acuerdo. Y éste es un asunto que está recibiendo creciente escrutinio de importadores de etanol, especialmente en Europa. Qué hacer acerca de ello es, sin embargo, menos claro.

Con la creciente inversión y competencia en la industria del etanol y el cada vez mayor escrutinio internacional de las condiciones laborales, así como de los impactos ambientales provocados por las quemas de cañaverales, la industria brasileña del etanol se está mecanizando rápidamente. La mayoría de los trabajadores de la caña perciben a la mecanización como una amenaza, incluso mayor a los riesgos de su propio trabajo.

De acuerdo con el Sindicato de Trabajadores Rurales de Guariba, cada cosechadora mecánica reemplaza a más de 100 trabajadores. La Asociación de Industriales de la Caña de Azúcar de Brasil, predice que el 80 por ciento de los 500,000 puestos de trabajo del sector desaparecerán en los próximos tres años debido a la mecanización. En ausencia de otras fuentes de trabajo que absorban esta fuerza laboral primordialmente migrante, el resultado podría ser la descomposición y la agitación social.

Una población invisible

La hermana Ines Facioli coordina Pastoral do Migrante, una organización católica que atiende a los cortadores de caña migrantes de la región. De acuerdo con la hermana Ines, aproximadamente el 70 por ciento de los 350,000 cortadores de caña del estado de Sao Paulo son trabajadores migrantes. Sin embargo, ni los ingenios azucareros ni el gobierno saben quiénes son estos trabajadores migrantes, en dónde viven o cómo están subsistiendo. Ante la transformación que ha experimentado la industria, de ingenios azucareros familiares a ingenios cuya tenencia está en manos de grupos de inversión o compañías multinacionales, los cortadores de caña—que solían hospedarse en barracas propiedad de los ingenios—son ahora dejados a su suerte para encontrar alojamiento en pueblos y ciudades cercanos. Muchos migrantes viven con otros cortadores de caña en chozas informales en los pueblos o en las crecientes favelas de las periferias urbanas.

La razón principal por la cual los migrantes dejan sus comunidades es la falta de oportunidades económicas, especialmente en el noreste empobrecido. "Ellos no tienen tierra, y trabajar la tierra en sí mismo no provee lo suficiente para vivir." explica la hermana Ines. "Ellos vienen aquí con el objetivo de comprar un poco de tierra, construir una casa."

En la estación de camiones en Timbiras, en la región de Maranhão, cada día parten 13 camiones a Sao Paulo. En 2007 aproximadamente 70,000 residentes emigraron. Pero para muchos el sueño que motiva a los jóvenes Maranhenses para dejar sus pueblos nunca se realiza.

"La gente va a emigrar a donde hay trabajo ... en busca de algo mejor," dice la hermana Ines. "Pero aquí es peor. La vivienda de los Maranhenses aquí es peor de lo que tenían allá. Más importante aún, allá ellos tenían una estructura social."

Una promesa ilusoria

En la esquina de la plaza de Guariba, los autos avanzan hacia la estación de gasolina verde y blanco de Nivaldo Mazz, para llenar sus tanques con etanol a 1.25 reales brasileños por litro. "El precio del etanol se ha incrementado," dice Dias Peixoto al tiempo que observa. "Pero no es un precio alto para alguien que trabaja en la caña—el trabajador no ve nada de éste."

El costo del etanol brasileño no se mide sólo en reales. "Alguien que corta caña por diez años está acabado," dice la hermana Ines. "Los ves con los brazos hinchados, deformados, con problemas de la espina dorsal."

Mientras que la creciente mecanización del sector cañero de Brasil puede ayudar a mejorar la imagen de la industria al remover seres humanos de un proceso fatigante y explotador, como lo percibe la hermana Ines, la mecanización no está exenta de sus propios costos significativos. "Ésta va a generar más pobreza," dice ella, especialmente para los migrantes. "Si ellos no tienen empleo allá, ellos vienen aquí. Y si ellos no tienen empleo aquí ¿adonde irán?"

Soluciones difíciles

Mitigar problemas añejos de pobreza y migración requiere invertir en las regiones más empobrecidas y, aún más importante, en programas de gran envergadura de reforma agraria, de tal manera que los brasileños rurales puedan encontrar oportunidades sin tener que migrar. Pero asegurar un mayor acceso a la tierra no es parte del plan gubernamental de desarrollo de biocombustibles, ni tampoco es el objetivo de otras naciones que están emulando el ejemplo brasileño.

Mientras el auge de los biocombustibles ha atraído un flujo de inversiones en dólares de todas las regiones del globo, mayores ganancias no han beneficiado a los brasileños que trabajan para producir esa energía. "Los ingenios azucareros no valoran nuestro trabajo," dice Dias Peixoto. "No importa si el producto final tiene valor."

Aunque la reciente crisis financiera global está mermando las nuevas inversiones en biocombustibles, los analistas predicen que el auge de los biocombustibles resurgirá cuando los precios del petróleo se recuperen. Al tiempo que la promesa de un desarrollo económico basado en biocombustibles continúa capturando la imaginación de los migrantes a lo largo de Brasil, así como de naciones a lo largo de la región, con la globalización esa promesa puede estar transitando a la deriva lejos de la realidad.

"Yo vine aquí con la esperanza de encontrar algo mejor—es la razón por la que todos migran," dice Dias Peixoto. "Pero es sólo una ilusión."

Gretchen Gordon es una escritora freelance en asuntos de energía y globalización en América Latina y una colaboradora del CIP Americas Program www.americaspolicy.org. Se le puede contactar en graciela(at)riseup.net.

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