sexta-feira, maio 01, 2009

Objetivação da contradição do capital


Aproveitando as manifestações do dia dos trabalhadores pela luta contra a exploração, as demissões num cenário de crise financeira mundial, no Brasil e no Mundo, é importante a reflexão em torno dessa data que foi instituída por iniciativa da Internacional Socialista (organização fundada e dirigida por Karl Marx e F. Engels) num congresso realizado em Paris no ano de 1889, em homenagem à heróica greve realizada três anos antes, em maio de 1886 na cidade de Chicago (EUA), na qual foi um movimento, que mobilizou milhares de pessoas, e foi brutalmente reprimido pelo Estado, resultando no assassinato de 12 grevistas e em dezenas de feridos, bem como na prisão e posterior condenação à morte dos principais líderes operários, que ficaram conhecidos na história como os “mártires de Chicago”.


Faço um paralelo com o debate que ocorreu no último dia 29, na FFLCH USP sobre "Marxismo e a Crise" na qual a apresentação do professor Ruy Braga foi bastante pertinente e atual. Ele apontou uma única saída para a crise econômica, que seria de ordem dos trabalhadores, já que o grande desafio é de uma imaginação política, pois visto que essa crise mostrou a irracionalidade do sistema e seu caráter predatório, é necessário exigir a racionalidade dos trabalhadores num momento como esse, que deve-se organizar em torno dos eixos da nacionalização dos bancos, de um plano que garanta trabalho, assim como uma escala móvel de trabalho e a redução da jornada de trabalho, sem a redução de salários!!

Hoje, na minha minha leitura de Georg Lukács da obra "História e Consciência de Classe" percebe-se como a obra de 1923 é atual já que ela contribui de modo significativo na compreensão e expansão de teorias da reificação, falsa consciência, totalidade e consciência de classe.
"Em outros termos, desde que a crise econômica final do
capitalismo entrou em cena, o destino da revolução (e com ela o da humanidade)
depende da maturidade ideológica do proletariado, da sua consciência de
classe
". (pag. 174)


E segundo Lukács, "para o proletariado, sua ideologia não
é uma "bandeira" de luta, nem um pretexto para as próprias finalidades, mas é a
finalidade e a arma por excelencia
".

E num contexto em que ocorrem a compressão da massa salarial, de demissões em massa e de flexibilização dos direitos conquistados dos trabalhadores, concomitantemente a uma retomada da taxa de lucros percebe-se quão desigual tem-se mostrado o sistema. Lukács diz que "Somente a consciência do proletariado pode mostrar a saída para a crise do capitalismo. Enquanto não existir essa consciência, a crise será permanente, retomará ao seu ponto de partida, repetirá essa situação até que, finalmente, após infinitos sofrimentos e terríveis atalhos, a lição pedagógica da história conclui o processo da consciência no proletariado e coloca-lhe nas mãos a condução da história."

Segundo ele o proletariado possui a vocação da revolução, e principalmente, num cenário de crise econômica a totalidade é possível de ser visualizada, ou seja, torna-se compreensível e apreensível a relação com a sociedade como totalidade, e somente aí se revela a consciência que os homens tem de sua existência.


O professor Vladimir Safatle salientou que trata-se de uma crise não só econômica, mas é também política, por que o que vemos hoje é uma gestão que ignora as pressões sindicais, que flexibiliza os direitos do trabalho, e esvaziou as decisões do Estado. Temos meramente um Estado que cria as condições para que os atores do mercado ajam sem entraves. Não se trata de um desvio de moral de alguns que prejudicaram todos, isto é, não houve um grupinho de investidores em Wall Street culpado pela crise vivenciada, mas um modelo de gestão que propiciou toda a avalanche de falências, quebras, perdas e demissões. A bomba estourou na mão do trabalhador da periferia de São Paulo, assim como no povoado chinês, e este mesmo modelo que permitiu essa crise deve ser posto em cheque. Não se pode mais estar à mercê do bel prazer do mercado, mas devemos reivindicar uma nova regulação política que possa tomar as rédeas de uma democracia também. E Lukács completa:


"Como produto do capitalismo, o proletariado está necessariamente submetido
às formas de existência de seu produtor. Essa forma de existência é a
inumanidade, a reificação. Decerto, por sua simples existência, o proletáriado
é a crítica, a negação dessas formas de existência. No entanto, até que a crise
objetiva do capitalismo se complete, até que o próprio proletáriado tenha
adquirido uma visão completa dessa crise e a verdadeira consciência de classe,
ele é mera crítica da reificação e, como tal, eleva-se apenas negativamente acima
do que nega
".

Cris Bibiano

Um comentário:

Fernando Cirilo disse...

Humm.. Legal o texto... Lembrei-me de um livro que li: O HORROR POLÍTICO, O HORROR NÃO É ECONÔMICO.


contador gratis