quinta-feira, maio 22, 2008

prosa de um canavieiro


Todo dia, mais um dia
de sol rachando o coco
de água quente na cumbuca
água de ontem pra gente bebe.



Patrão conta o tempo de descanso,
traz máquina pra competir com humano,
faz do chão seu domínio
aquele mesmo chão em que eu ando.



O sol do ínício do dia
anuncia que muita cana vai no meu lombo,
e muita saudade do meu canto
da minha terra que deixei
e pra lá algum dia eu volto,



O facão e a foice são meus poucos companheiros
que cravam marcas de calos nos meus dedos,
dessa lavoura que ainda eu deixo
por um destino menos ermo.




O in itinere da minha volta é ainda árduo,
cansaço e suor me guiam
no longo percurso que pra casa faço,
na certeza de que no raiá da madrugada
volto pra penoso trabalho de cão,
que um dia sonhei encontrá a liberdade
e que hoje suporto a tudo tão resignado.
Cris

2 comentários:

Natureza Poética disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Natureza Poética disse...

Cris,... o seu blog é ótimo.
Essa prosa é uma maravilha. Parabéns!
Um abraço.


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