sábado, março 28, 2009

o sofrimento e o prazer

Passei a última terça-feira estudando para a aula de Psicologia, desemprego e carreira profissional e ao acompanhar a leitura de Christophe Dejours – A Banalização da Injustiça Social – precisamente o capítulo para a aula “sobre o trabalho entre o sofrimento e o prazer” me chamou a atenção o quanto que a mídia tem relegado à segundo plano em trazer para o centro do debate público acerca das condições de sofrimento e prazer da classe trabalhadora. Principalmente por que mergulhados nessa atual crise financeira que o mundo padece, é primordialmente importante dar ênfase neste universo que sempre encontra-se escondido. Por que o prazer é recorrentemente veiculado pela grande mídia, que associa prazer no trabalho ao próprio sucesso financeiro e econômico. O trabalhador feliz vai ao McDonald's e come um “big-mac feliz”, ou então a família feliz acorda reunida no café-da-manhã consumindo manteiga. Embora o prazer, propriamente no trabalho, não seja isso em si, a grande mídia sempre transmite o prazer do trabalhador do Banco do Brasil, por exemplo, com a beleza e juventude de seus funcionários. Como se o prazer pelo trabalho estivesse, necessariamente, ligado ao ato de consumir um bem.
O próprio autor se indaga acerca dessa ausência de veiculação nas reportagens sobre o sofrimento do trabalhador, ou seja, a carga negativa e penosa, que encontra-se escondida e não-revelada no ato em que o trabalhador vende sua força de trabalho. E devido a essa não divulgação, principalmente nos jornais, muitas vezes faz com que pensamos que o “sofrimento do trabalhador” é algo excepcional e extraordinário. Aquele que sofre no trabalho é normalmelnte aquele trabalhador excepcional, que literalmente "dá trabalho" aos outros. É nessa linha de pensamento que Dejours trabalha esse capítulo. Quais os males que acometem o psicológico do trabalhador da metalúrgica, que em um momento de crise, se vê forçado a reduzir sua carga horária, ou então, o operário da construção civil que trabalha no sol, chuva, e muitas vezes sem os equipamentos de segurança necessários? Fala-se muito do crise econômica, mas quais as consequências psicológicas e físicas que acarretam no trabalhador? Trabalha-se mais, repetitiva e penosamente, forçando nervos. A própria angústia neste contexto de crise pela estabilidade do trabalho é um sofriemento, e que milhares de trabalhadores atualmente estão padecendo!
Dejours aborda a problemática do progresso de técnicas, que ao subtrair o suor do macacão do operário da montadora, relega à segundo plano as condições penosas e árduas das precárias condições de insalubridade, periculosidade, pressão psicológica, pelo aumento de vendas, e da produtividade. Como se a automação subtraísse o sofriemnto físico. Ignora-se o psicológico. O operador de telemarketing trabalha numa jornada estressante, com horários controlados pelo patrão, para ir ao banheiro, e na pressão pelo aumento de vendas, as metas estipuladas de vendas, numa jornada desgastante. Isso sem tocar numa outra problemática que sãos os baixos salários!
Para Dejours, “há o sofrimento dos que temem não satisfazer, não estar à altura das imposições de horário, de ritmo, de formação, de informação, de aprendizagem, de nível de instrução e de diploma, de experiência, de rapidez de aquisição de conhecimentos teóricos e práticos e da adaptação à “cultura” ou a ideologia da empresa, às exigências do mercado, às relações com os clientes, os particulares ou o público etc.” (página 28)

Nenhum comentário:


contador gratis